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Prédio da 28 de Setembro: 128 anos de história à beira do colapso em Juazeiro; prefeitura inicia análise técnico-estrutural no prédio
Por Sandro Costa
Publicado em 02/06/2025 16:49
Noticias

Fundada em 28 de setembro de 1897, a Sociedade Filarmônica 28 de Setembro é um dos mais antigos e importantes símbolos da vida cultural de Juazeiro, no Norte da Bahia. Palco de bailes memoráveis e eventos sociais que marcaram o século XX, o prédio histórico localizado no centro da cidade encontra-se hoje em ruínas, deteriorado pelo tempo e abandonado pelo poder público.

Apesar da condição crítica da estrutura com infiltrações, rachaduras graves na fachada e sinais de comprometimento do telhado, o local segue sendo usado, informalmente, pelo artista plástico e cenógrafo conhecido como Lulinha, que há 12 anos ocupa e cuida do espaço como ateliê. O local também serve a outros grupos que desempenham papéis artísticos e culturais importantes na cidade como grupo da Via Sacra e músicos da Filarmônica .

“Eu uso como ateliê do município. Aqui a gente guarda os materiais do projeto Cinema nas Praças, os figurinos da Via Sacra que apresentamos no estádio, as cadeiras, o som, etc. Venho mantendo o espaço limpo e cuidado, no intuito de preservá-lo, reconhecendo a sua importância para cidade. Isso aqui poderia ser uma fundação cultural do município”, disse o artista ao portal.

Lulinha conta que recebeu a chave do prédio ainda durante a gestão do ex-prefeito Isaac Carvalho, sob a condição de manter o local limpo e em uso, o que tem feito desde então. O artista já prestou incontáveis serviços à prefeitura ao longo dos anos, mas nunca foi formalmente contratado, segundo ele mesmo afirma.

Hoje, no entanto, ele vive a ameaça de ser despejado. Na última semana, segundo nos contou Lulinha, servidores da prefeitura cortaram o cadeado do imóvel, sem aviso prévio, e comunicaram que o prédio será utilizado para algum outro fim, dando-lhe um prazo de uma semana para desocupação.

“Eu vivo da minha arte. Não tenho pra onde ir. Esse tempo é muito pouco pra organizar tudo. Eu cuidei do prédio até onde pude, mas ele já estava deteriorado quando me entregaram a chave”, contou Lulinha.

Procurada pelo PNB, a Prefeitura de Juazeiro informou “que está realizando uma análise técnico-estrutural no prédio da Sociedade 28 de Setembro. O objetivo é identificar as intervenções necessárias para revitalizar esse espaço tão simbólico para a cidade. É importante reforçar que não há qualquer possibilidade de demolição do prédio. Pelo contrário: a Prefeitura tem se dedicado com responsabilidade à preservação desse patrimônio histórico, buscando formas de torná-lo um bem coletivo que beneficie toda a população juazeirense. Neste momento, a gestão está concentrada na regularização da situação do imóvel e na busca por alternativas que viabilizem sua restauração. Somente após essa etapa será definida a nova função do espaço, processo que ainda está em construção. A Prefeitura reafirma seu compromisso com a memória e a cultura de Juazeiro, reconhecendo o valor do prédio da 28 de Setembro como parte fundamental da história da cidade — assim como tem feito com outros imóveis históricos que vêm sendo cuidados e resgatados”.

Impasse

O prédio da 28 de Setembro tem sua história marcada por impasses jurídicos e o estado de abandono do imóvel é reflexo de uma série de conflitos e omissões ao longo das últimas décadas. Em 2022, o Ministério Público Estadual ingressou com ação civil pública contra o Município de Juazeiro, exigindo medidas emergenciais de preservação do prédio, como cobertura do telhado, substituição da madeira comprometida por cupins e reparo das trincas na fachada.

Mesmo com o laudo técnico apontando risco de desabamento e com o reconhecimento oficial do valor histórico do imóvel — declarado de utilidade pública em 2011 por meio do Decreto Municipal nº 386 —, nenhuma intervenção foi realizada desde então.

O prédio chegou a ser leiloado judicialmente após uma ação trabalhista movida por uma ex-secretária da instituição, mas, após a Prefeitura manifestar interesse e decretar a utilidade pública, o arrematante desistiu.

Em um acordo firmado, o município quitou o débito trabalhista, e o imóvel deveria ser definitivamente incorporado ao patrimônio público e restaurado. O processo segue parado na Vara da Fazenda Pública de Juazeiro.

Segundo o ex-presidente da entidade, o advogado Aurílio Sousa, a proposta era que a verba da avaliação judicial do imóvel — cerca de 55 mil reais líquidos, após débitos — fosse totalmente destinada à reconstrução da sede, com a criação de uma nova filarmônica, uma escola de música, uma biblioteca e um centro cultural.

“Ninguém quer dinheiro. O que queremos é que a Sociedade Filarmônica 28 de Setembro seja restaurada e volte a ser um polo cultural de Juazeiro. Mas falta vontade política. A prefeitura não apresentou projeto, e tudo ficou estagnado”, relatou Aurilio.

Enquanto isso, a comunidade Juazeirense segue indignada, essa situação preocupa moradores, comerciantes, artistas  da cidade, que alertam para o risco de acidentes e lamentam a negligência do poder público diante de um patrimônio tão simbólico.

“Essa parede da frente está para cair. O risco é visível. Vão esperar acontecer uma tragédia? Enquanto isso, a prefeitura paga aluguel caro em outros imóveis, quando poderia reformar este prédio que está no coração da cidade”, reclamou um comerciante vizinho ao prédio.

O ex-presidente Gilmar Guimarães também manifestou indignação. Em 2023, declarou ao Portal PNB:

“A 28 de Setembro completa hoje 126 anos. Está na UTI. Muito triste.”

A arte resiste, mas até quando? Enquanto a justiça e a administração pública não tomam uma decisão definitiva, o prédio segue em pé  sustentado por um esforço coletivo, arte e memória. A história da 28 de Setembro é a própria história de Juazeiro. E, como tantas vezes se viu na cidade, o descaso com a cultura pode acabar apagando capítulos inteiros do que um dia foi orgulho local.

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